SÃO PAULO - Mais do que a chateação por ter sido vítima do racismo da torcida do Real Garcilaso na quarta-feira, no Peru, o meio-campista Tinga, do Cruzeiro, o que realmente o abalou foi saber a reação do filho. Somente nesta quinta-feira ele teve conhecimento de que o garoto chorou bastante com o que lhe aconteceu. Isso foi o que mais doeu, disse Tinga na volta ao Brasil, após longa viagem desde a cidade peruana de Huancayo.
"O momento que realmente me deixou chateado foi quando soube que meu filho começou a chorar muito, sem entender o que estava acontecendo", disse Tinga à rádio CBN.
"E hoje (quinta-feira) ele não quis ir para a escola. Eu estou preparado, porque a minha vida sempre foi de provações, mas minha família não está preparada."
O jogador do Cruzeiro entrou em campo contra o Garcilaso aos 20 minutos do segundo tempo, em lugar de Ricardo Goulart. Recordou que começou a perceber torcedores imitando gestos e sons de macacos já quando se encaminhou para assinar a súmula. Em campo, tentou se concentrar o máximo que pode, mas admitiu que não foi possível.
Tinga revelou que, após o jogo, a primeira coisa que fez ao chegar ao hotel em que os cruzeirenses estavam hospedados foi ligar para a sua mulher.
"Ontem (quarta-feira), ela não quis me falar sobre a reação do meu filho. Só falou hoje (quinta-feira)."
A volta da delegação do Cruzeiro ao País foi longa, num total de três voos até Belo Horizonte. Quem acompanhou a viagem, diz ter observado que Tinga estava descontraído, brincando com os companheiros. Mas sua expressão era séria ao desembarcar em São Paulo. Próximo das 20h30 a delegação chegou ao aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, onde permaneceu por cerca de uma hora e fez conexão antes de seguir até o destino final.
O experiente jogador de 36 anos lamenta que manifestações racistas ainda ocorram nos dias atuais, e não apenas no futebol. Ele gostaria de ver a situação finalmente mudar.
"Na verdade, eu gostaria que isso não venha a acontecer novamente em outros jogos, em outras situações."
Para ele, a questão não é só de preconceito racial.
"A principal diferença não é só racial. Tem a social que é tão grande, eu acredito que até um pouco maior. Espero que a gente venha a mudar isso por nós mesmos. Não precisamos esperar por ninguém, que cada um possa mudar dentro de casa, no convívio com os amigos..."
O amplo apoio e as manifestações de solidariedade recebidas de autoridades e de companheiros é, para Tinga, um sinal de que é possível mudar o quadro e acabar com a intolerância. Antes mesmo da chegada do time do Cruzeiro no aeroporto de Confins, cerca de 30 torcedores do clube aguardavam a delegação com faixas de apoio a Tinga. O time chegou à capital mineira por volta da meia-noite desta sexta-feira.
Fonte: Estadão
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